Aí as pessoas vão chegando e tomando seus lugares no escuro. Aí elas acostumam seus olhos à pouca luz (e, quem estiver com sorte, acostuma as mãos). Aí vão passando os trailers, que sempre, e sempre não é uma hipérbole, são perfeitos. (e, no caso de alguns filmes, são a única coisa que presta). Aí toca a música da Warner, depois a tela fica escura, vem mais uma ou duas vinhetas (às vezes três) – se for um filme brasileiro, vem a logomarca da Petrobrás – e: pronto, o filme começou.
Você se mexe na cadeira, você não gosta de ficar sentado por muito tempo, mas, então, sem que você perceba, o seu bumbum se acostumou a ela, assim como seus olhos se acostumaram à penumbra, e você já nem sabe mais se está numa sala de exibições ou num navio. Talvez você esteja numa cidade que nem sabe pronunciar o nome, ou num lugar que simplesmente não exista; talvez você esteja numa galáxia muito distante, há muito tempo atrás, ou na cabeça de um homem louco. Você escuta o som das águas, se assusta com o estouro de uma manada, você se emociona com um bebê congelado, ri com o final feliz de um casal de bobos, se excita com as pernas (que nem foram mostradas) de uma loura que jura amar você.
Você está num espaço que não pertence ao mundo comum, não pertence ao tempo comum, não pertence à realidade prosaica. Você está num mundo em que a poesia é materializada em imagens que se movem como se tivessem vida, um mundo em que a ilusão ganha verdade e te conta segredos profundos que, sozinho, talvez você nunca descobrisse. Você está num templo de sonhos.
Você estava no cimena... O que aconteceu? As últimas letrinhas já escalam a tela escura (você não pode lê-las, está embriagado). Acabou o filme, você voltou pra casa... Mas, o que aconteceu? Você estava no cinema: até bem pouco tempo você estava no cinema – agora, é o cinema que está em você.







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